terça-feira, 30 de dezembro de 2008

?

Por que tanto medo?
Não mordo,
só penso.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Chuva

Chove aqui dentro.
Um garoa constante
que me enche aos poucos
até chegar aos olhos.
As lágrimas não são lágrimas:
são gotas da fina chuva
transbordando de mim.
Água doce, água salgada...
Água amarga e sem cor.
Água sem sabor como toda água.
Chuva chorada sem pressa,
sem represas e barragens.
Escorrem os filetes pelo rosto
até a boca sentir o gosto de mar,
gosto de rio, gosto de chuva
que molha a terra e purifica o ar.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Mulher

Meu poder não vem da beleza:
não sou musa nem sou deusa,
sou apenas mulher.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Desesquecida

Sinto que fui apagada...
E eu que pensei ser indelével.
A única marca que deixei
foi não ser lembrada.
Deixe-me voltar à vida!
Quero ser desesquecida
e ser de novo palpável
como uma quimera sua...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Como quem respira...

Tenho muitos amores
e tenho nenhum,
pois não os amo de fato.
Receio a solidão apenas...
Procuro em alguém
algo que não eu,
estando ali a felicidade ou não.
Me apaixono como quem respira,
sendo a paixão o ar
que me mantém viva.
Mas não vivo o amor.
O amor é eterno,
mas a paixão é efêmera
como a própria vida.

domingo, 30 de novembro de 2008

Deus

Deus sabe quem são os seus:
somos todos nós.
A gente que não se rende...
Mas aquele que sente
o fogo do espírito queimar
e a fonte de água viva jorrar
verdadeiramente conhece
o Reino dos Céus:
este descobriu que também é Deus.

sábado, 29 de novembro de 2008

Desejos

Esqueci de dormir
só pra lembrar que você existe.
O sono insiste,
mas o desejo é mais forte.
Queria não ser tão iludida
e não pensar que você pensa em mim.
Só queria que não tivesse fim
aquilo que nem começou,
mas que há de se perpetuar...
Preferia não chorar
nem sentir dor ou saudade.
Preferia adormecer tranqüila,
sonhar que foi apenas um sonho.
Queria abandonar esse vício estranho
de querer tatear a felicidade.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Talvez...

Talvez eu veja as coisas
mais doces do que realmente são.
Talvez eu seja ingênua,
muito romântica e sonhadora.
Talvez eu seja poeta,
literalmente uma amadora.
Talvez eu viva num outro mundo
onde habita a ilusão...
Talvez...
Ou quem sabe não seja eu.
Talvez as mentes estejam embrutecidas
e as almas sem leveza.
Talvez o gosto da vida esteja amargo
para quem não enxerga a beleza
de simplesmente existir
e poder acordar todo dia e dizer:
Deus, estou aqui!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Algemada

Devia não estar presa a você.
É incompreensível tal apego,
tamanho desassossego
que provoca esta prisão.
Voluntária, mas não definitiva.
Essa história aflitiva
que componho quando contigo
me deixa à flor da pele,
com frio na barriga e no coração.
Já que tenho a chave,
melhor destrancar a algema
antes que ela se trave
e eu não consiga mais me soltar.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Sem nome

Teu sono intranqüilo
não é menos bonito
que qualquer outro sono.
Talvez eu não esteja em teu sonho,
mas estou aqui a teu lado,
imóvel para não te acordar.
E pensar que nunca pensei
sobre como seria não dormir
e apenas contemplar o rosto
adormecido de quem
parece que nunca dorme.
Envolta em braços e pernas ,
permaneço quieta...
O momento se completa
ao descobrir que estou sentindo
um sentimento sem nome.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Enterro

É hora de partir.
Mal cheguei, tenho de ir.
Seque as lágrimas e o suor.
Seque também seu amor.
Limpe os vestígios de mim
que ficaram sobre o tapete.
Apague de sua mente
minha imagem distorcida.
Já te expulsei da minha vida
antes mesmo de te conhecer.
Quando vier o amanhecer,
finja que nunca estive aqui.
Se não der, pense que morri.
E que não enviei convite
para acompanhar meu enterro...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Quarto

Basta eu escutar essa música
e você surge na minha frente.
O quarto se enche de gente:
uma multidão de eu e você.
E dançamos pelo vazio
entre os móveis,
passeando pelo caminho
entre o chão e o teto.
Não há nada concreto
além dos nossos corpos almados:
nem o quarto, nem a cama
onde estamos deitados
nos permitindo não pensar.
Pensamentos são voláteis,
mas não invioláveis.
Melhor sentir...
Pois sentimento não se entende:
apenas se sente.

domingo, 9 de novembro de 2008

Saudade

Tenho saudade de você,
mesmo que não seja recíproco.
A vontade que me bate
é de soltar um grito rouco,
feito aqueles loucos das praças
e ruas de que não sabemos o nome.
Sinto fome do seu beijo...
Rastejo na cama em busca de seu corpo.
Por pouco não me perco no sonho,
tão palpável que jurei não ter sido...
Os sentidos se fundem:
um macio cheiro azul-hortelã
invade meu pseudo-divã
soprando o som da sua voz rasgada.
E a sagrada paixão que penso que sinto
é menos pensada e mais insensata,
tão intensa quanto a falta que você faz.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Santa

Volto para casa
carregando em meu corpo
todos os pecados do mundo.
Pesam sobre mim agora
os desvios da humanidade,
que sempre foram meus.
Os erros imperdoáveis,
as falhas mais críticas.
Um dia serei santa.
Serei redimida pela culpa,
dor mais temível que o flagelo.
O sangue que escorre da consciência
é mais denso que o da carne:
jorra sobre a alma e a purifica.
Sofro pacientemente,
aguardando o dia do meu apocalipse.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Jogo

Tudo o que é escondido
é mais gostoso
porque é perigoso,
porque é excitante.
Mesmo hesitante,
aceitei seu jogo
nada claro
para o meu faro
de mulher pouco experiente.
Você disse: tente!
Tentada fui, aqui estou.
Não há ganhador,
apenas dois jogadores
sem culpa e sem temores
de que sua banca seja descoberta.
A janela está aberta...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Calendário

E eu que perdi a noção do tempo
percebo que o calendário
é apenas um inventário
dos dias que passaram
e dos dias que vão chegar.
Que importa se é terça ou quarta?
Hoje são 23, amanhã pode ser dia 02.
A medida do tempo é inexata,
como é inexata a medida do amor.
Mas nem sei a data de hoje,
se é hoje ou se ainda é ontem.
Pode ser que seja ano que vem!
Eu já não me lembro muito bem...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Poesia

Há quem pense
que fazer poesia
tem um quê de magia,
um traço non sense.
Mal sabe que poetizar
é olhar para si,
esquecer de existir
para o verso brotar.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Dói

Dói...
Sei que dói em mim
e em você faz rir.
Risada mais dolorosa
que a própria dor em si.
E como sofro porque quero,
sofro porque espero
cessar seu acesso de risos.

Sei lá

Sei lá...
O silêncio castiga mais
quando procuro entender.
A única forma de saber
é se você me disser.
Mas você não diz
e eu fico sem diretriz
para acionar meus sentidos.
Por que comigo?
Há tantas pessoas
e você mirou em mim.
Mesmo com bala de festim
meu peito ficou ferido.
Sei lá...
Acho que sofrer para mim
é um irremediável vício,
sendo um grave indício
eu me entristecer.
A única coisa que me consola
é estar certa de que nada é certo.
Então, se você quer ficar perto...
Sei lá!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Dança das estrelas

No céu, há uma dança
Estrelas bailam no azul negro
Piscam para nós.
Nos convidam
Para acompanhar seus passos.
Elas irão sumir
O dia vai chegar
Mas nossa dança adentrará a luz
Até o sol se pôr novamente
E as estrelas incandescentes
Nos verão no intenso
Dois pra lá
Dois pra cá.

Rosas

"Ama as tuas rosas"
Vou amá-las enquanto viverem.
Regá-las, cuidá-las,
Ou então até que murchem...

Faustine

Sonha um sonho azul
Cheirando a rosas
Que joguei no mar.
Sonha que existo
Não só no seu sonho
Que não sou Faustine
Nem que você é Morel.
Sonha...
Pode ser que seja real.

Morel

Momentos perfeitos
Se eternizam pela máquina
Que você construiu.
Mnha vida se esvaiu
por conta de seu capricho
de ter-me para sempre, Morel...
Sou somente projeção
nesta ilha perdida
Eu era Faustine
e agora nem tenho sombra.
O que me sobra agora
é não ser mais eu
ou simplesmente não ser...

Flores

O aroma das flores
está em minhas mãos.
O cheiro das rosas
foi o que ficou...
Nada mais!
Um resquício de beleza.
Uma ponta de saudade.
Um breve alívio
para o bem da verdade.
Essa cor de água,
que não é cor.
Essa forma de ar,
que não se formou.
Sentidos se misturam
no final de tudo,
separando eu de mim.
E o que sobra
é uma vaga lembrança
do perfume doce
que colhi das flores.
Rosas que você me deu...

01/08/08

Amor de mentirinha

Meu amor de mentirinha
ora diz não, ora diz sim.
Quando diz não,
é fingimento.
Quando diz sim,
eu não entendo.
É uma falsa verdade?
É uma verdadeira farsa?
O nosso amor é tão bonito:
ele finge que me ama
e eu finjo que acredito.

01/08/08

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Música

Cada canção que você cantarolava
todas as manhãs, para me acordar,
ficaram gravadas no meu coração.
Hoje saem dos meus lábios
em meio a lágrimas e saudade.
Você pegou o trem, não o das onze
mas o da manhã que chegava.
O dia vinha raiando, meu bem,
e você teve que ir embora.
Você foi, amor: vai que depois eu vou!
O meu dia também vai chegar.
Mas pai, cadê o jarro?
O jarro que eu plantei a flor...
A flor da saudade. Está aqui.
Recordar é viver,
eu ontem sonhei com você!
Canterei todo dia:ao acordar,
ao comer,
ao estudar,
ao dormir...
Cantarei o que você me ensinou:
a música e eu somos uma só.
E minha voz refletirá a sua,
meu sorriso será como o seu,
e a alegria vai se espalhar.
Madureira chorou de dor,
mas eu vou sorrir,
mesmo a voz do destino,
obedecendo ao Divino,
tendo chamado a minha estrela...

31/07/08

Combustível

O pouco é melhor que nada.
Faço poesia e isso me basta.
Sentir é combustível
para escrever
até o que não sinto.

11/08/08

Ovídio

O oceano é um filete d'água...
Depende de onde você olhar.
A poesia nos distancia
e é o que nos aproxima,
como um imã bipolar.
A verdade é uma mentira
que se realiza...
Se eu minto que sinto,
amanhã posso sentir.
Como já dizia Ovídio:
mesmo ao perceber
que a paixão é fingida
é comum que um amor simulado
se torne verdadeiro...

12/08/08

Esta noite

Esta noite...
Será seu fim, meu início,
sem deixar qualquer indício
de que um amor aconteceu.
Esta noite,
sem dúvidas e sem receios.
Acontecerá o que anseio
há tempos sem você saber.
Esta noite!
De hoje não vai passar.
Amanhã, assim que acordar,
não estarei mais a seu lado.

02/08/08

Cores caras

Não escreva para mim,
embora eu escreva.
Uso cores claras,
se possível transparentes.
Essas cores me são caras,
pois só vê quem pode
e não quem quer...
Ao vivo, mudo o tom:
peso na tinta.
Se não escurecer, apareço.
E se apareço, o mistério se desfaz.
E desfeito o mistério,
não há o que escrever.

09/08/08

domingo, 27 de julho de 2008

Pai

"Ai, ai, ai
Tá chegando a hora
O dia já vem
Raiando, meu bem
Eu tenho que ir embora"
E ele se foi
Para nunca mais voltar
Antes do dia raiar
Como a canção
Que me embalava as manhãs
Ao levantar.
" Vai, vai amor.
Vai que depois eu vou!
Eu sei que vai pra longe
Não poderei esquecer..."
Nunca esquecerei você.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Poeta

Vai saber o que se passa
Na mente séria de poeta
Na mente insana de poeta
Na mente fértil de poeta
Poeta mente muito
Mente sinceramente
Inventa o que não sente
Sente o que inventou
Agora não sabe mais
se o que se sente
Nele começou ou acabou...


09/7/08

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Nostalgia

Estas paredes
têm um quê de nostalgia.
Suas únicas fotografias
estão dependuradas na memória.
São incontáveis retratos:
alguns em preto e branco,
outros coloridos,
muitos imaginados.
Pessoas, coisas, eu!
O vivido ocasionado,
o desejo aprisionado,
o passado enrubecedor.
Histórias que eu sei,
das quais só me lembrei
porque hoje vim aqui
para esquecer de mim.

03/4/08

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Você não sabe fingir

Seus discurso claudicante
me irrita profundamente.
Essa indecisão vazia
contida em suas palavras
denota certa apatia
diante da minha fala.
Para você, é difícil discernir
entre o amor sublime e puro
e o querer sincero e profano:
são estanques formas de sentir.
Não quero a sua certeza,
quero a possibilidade de agir.
Não estou em busca de clareza,
mas do obscurantismo do devir.
Meu coração não está vulnerável,
mas meu corpo... completamente!
Você finge que não entende
só para me atingir.
Mas se esqueceu de um detalhe:
você não sabe fingir.


02/04/08

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Empatia

Aquele cordão
que você me deu
esfacelou-se
como nosso amor.
E junto com ele
as tardias lembranças,
indícios seus
agora em migalhas.

02/04/08

terça-feira, 1 de abril de 2008

Aprendizagens...

Posso aprender sua língua
sua física, sua filosofia.
Posso aprender sua lírica
sua anatomia, sua psicologia.
Posso aprender a ser ou não ser,
aprender a ter e perder.
Posso aprender a aprender
e aprender a esquecer.
Posso aprender tanta coisa
ou até nada aprender...
Pois eu já sei bem
inventar mil desculpas
para estar perto de você.

20/3/03

Beleza triste

Tenho uma beleza triste...
o olhar distante
o rosto pueril
o peito arfante
a idéia a mil
o sorriso oscilante
a mente onírica
o corpo bacante
a vida lírica
a morte constante

03/03/08

segunda-feira, 31 de março de 2008

Livro

Livro

As páginas daquele livro
foram rasgadas.
O que nele estava escrito
já não me agradava.
Por mim nunca foi lido
aquilo que eu esperava.
Não foi o que li,
mas o que não li
que me deixou irritada.
Não estavam lá
um amor romanesco
nem um cavaleiro picaresco.
Não tinha príncipe nem fada.
Aquelas frases deviam ser apagadas
e o livro jogado num fogueira.
Como pode um monte de folhas
trazer-me tanta tristeza?
Não havia palavras doces
nem poemas homéricos.
Auto, conto ou que fosse
um simples romance patético.
Se até fossem receitas
seria mais literário.
O livro que tanto me irrita
é apenas o meu diário...

31/08/06

Retrato imaginário

Retrato imaginário

Na minha fértil mente,
teu retrato imaginário,
idealização do que desejo:
tudo o que tu não és!
Conheço teus muitos defeitos
e sinceramente os aceito,
mesmo que eu não entenda
minha lógica ao revés.
Devia expurgar tua imagem,
apagar tua existência.
Mas não sou tão simples
quanto a meus intensos amores.
Um romance complicado
me enreda com tal agrado
que excita meus sentidos
provocando mil tremores.
A razão de gostar tanto
reside no extremo irracional.
Porque o melhor
nem sempre é o certo.
O certo é perdoar-te, esquecer-te,
afastar-te do pensamento.
O melhor é negar o perdão
para conservar-te por perto.

Lenita, 31/03/08

quinta-feira, 27 de março de 2008

Mãos mudas

Mãos mudas

As mãos, mudas.
Delas não saem nada.
Calaram-se de repente.
Não escrevem como antes.
Não escrevem...
O pensamento manda,
mas elas não obedecem.
Se recusam a empunhar a caneta,
a dedilhar o teclado.
Nem sequer uma palavra
elas riscam no papel.
Desiludiram-se decerto.
Perceberam que seu esforço
sempre foi em vão.
Nenhum par de olhos
aprecia seu trabalho.
Nenhum par de ouvidos
que escutar seus textos.
Nenhuma boca
recita seus versos.
Nenhuma mente
transformou-se com seus escritos.
Para que escrever,
se as mãos escrevem
e ninguém lê?
Abandonaram a escrita,
nem o papel as quer ouvir mais.
Pois elas falam pelas letras
que desenham.
Falavam, aliás.
Hoje, silenciosas, as mãos
se dedicam a outro ofício:
enxugar as lágrimas do escritor,
que chora por não mais conseguir
escrever...

14/03/06

Calar-me-ei...

Calar-me-ei...

Escrevo-te para dizer que te amo.
Não adianta escrever, eu sei.
As palavras já não são suficientes.
Como faço então?
Se os poemas já não rimam,
se as cartas já não falam,
se a fala já não diz...
Se de versos te fartei,
se de frases te cobri,
hoje inundo-te de silêncio.
O vazio do papel,
a afasia que vem da garganta
são a representação do indizível.
O sensível não precisa ser dito:
sintamos apenas!
Sentimentos calados,
palavras guardadas.
Rasgo o vocabulário,
pois nenhuma língua traduz
o tanto de amor que tenho:
imensuravelmente imenso.
Da minha boca,
somente beijos terás.
Emudeci, calei-me.
De minhas mãos,
apenas afagos.
Também as calei,
não escreverão mais.
Ouça o inaudível:
todos os sons silenciados.
Veja o invisível:
meus textos apagados.
Para dizer que te amo,
não entoarei uma só frase,
sequer alguma sílaba ou letra.
Aprendas a ler o meu olhar,
a escutar meu coração.
Direi tudo ao não falar nada.
Espero que, castrando minha voz
e tolhendo minha escrita,
possa eu mostar-te sem poemas,
cartas ou declarações,
que és meu
grande,
verdadeiro
e único
amor.

14/3/06

terça-feira, 25 de março de 2008

Teatro

Teatro

Sentimentos que rasgam,
transpassando a alma.
Pensamentos que destoam,
lembranças que atordoam,
ferida que não sara.
Felicidade ressentida,
desespero de uma vida
vivida sem pretensão,
pretensiosamente em vão.
Fingir sinceramente
é mais concreto que a verdade.
Não existe, simplesmente,
o que se crê realidade.
Obrigação de querer o inatingível
é a arte de ser outro,
é perceber-se morto
ao desvelar o invisível.
Se o nada cabe em tudo,
se o fim não acaba de fato,
o que é, então, o mundo
senão um imenso teatro?

25/7/06

Nada muda

Nada muda

Sem palavras,
permaneço muda.
Nada muda.
O tempo só passa
para quem é feliz.
Para quem é triste,
o tempo resiste,
insiste em retroagir.
O passado vem à tona,
abre a ferida novamente.
E quem sente a dor
de reviver a angústia,
custa a crer que existe
algo bom na vida.
Se é que existe vida...
Para quem sofre,
a vida é morte diária.
E cada vez mais,
quando se pensa em gritar,
a voz falha.
E quanto mais se tenta,
mais ela falta.
Um grito silencioso,
a fala sem som...
Segredando o que não é segredo,
não porque quer,
nem porque sente medo.
Mas porque não consegue
externar o incontentamento.
Engolida a seco,
Numa reviravolta,
A revolta se revira
E volta sem sucesso.
Já não adianta mais.
Acontece tudo outra vez...
As lembranças vêm torturar.
O cotidiano se repete,
rotineiramente insuportável.
Neste vício de ser vicioso,
o tempo retorna para lembrar
que permaneço muda.
Nada muda.


Lenita, 20/08/06

domingo, 23 de março de 2008

Carta

Carta

Doce alento
trazido pelo tempo,
levado pelo vento,
esquecido por esquecimento...
Sons ecoados pela vida,
deixados na triste partida.
Lembrança daquele presente
onde presença era constante
e agora se faz tão distante,
que saudade é o que sente.
Ficou pelo menos a carta,
o desenho daquela letra.
As palavras se tornam aladas
e vão acalentar a alma
dissipando a grande nostalgia.
Reinventam toda a poesia,
transformando de vez a poética,
fazendo a rima desnecessária,
realizando a beleza imaginária,
recontando qualquer métrica,
desprendendo-se da retórica,
desfigurando a figura estética.
E é apenas um pedaço de papel...
A caneta fez-se pincel
e usou todas as invisíveis cores
para pintar de diversos sabores
a memória que passa em telas.
Quando lida, a carta revela
certezas duvidosas do amor,
diz que o perfume não vem da flor,
mas do sonho não concretizado,
que deixa rastros para ser alcançado.

Lenita, 26/7/06

quinta-feira, 20 de março de 2008

Noite

A noite


A noite é uma eternidade.
São horas infindáveis
que produzem saudade.
A insônia me faz escrever.
Sonho acordada
só de pensar em você.
Tento dormir,
mas a ansiedade não permite,
o sono insiste em não vir.
Daqui a pouco amanhece...
Logo, logo o breu se vai.
Ao longe, a lua fenece.
Seu brilho aos poucos se esvai.
As estrelas vão se apagando.
A manhã enfim está chegando,
trazendo consigo meu sono perdido.
Mas não posso descansar.
Devo levantar e sorrir,
já que o sol decidiu se iluminar.
O dia, por mais longo que seja,
não é tão grande quanto a noite.
O dia consente que eu te veja,
mas a noite de mim te esconde.
Quando o ocaso se apresenta,
sei que é hora de despedida,
enfim é o fim do dia.
E o início de minha tormenta...
A lua renasce,
as estrelas reacendem,
a noite ressurge.
Em busca de sono e de sonhos,
minha saga recomeça.
O tempo se arrasta pela madrugada,
como se não tivesse pressa.
Continuo acordada, pensando em você.
Novamente, somente me resta escrever.
Será mais uma noite interminável,
que algum dia vai terminar.
Terminará quando vier o dia.
E quando meu sono então começar...

Lenita,13/7/06

segunda-feira, 17 de março de 2008

Érato, a amável

Érato, a amável

Sou Érato, meu poeta,
a musa que te inspira .
Sei que me desejas,
mas a mim nunca terás!
Beleza que ofusca teu olhar,
mas atiça tua imaginação,
aclara o teu pensar
e governa tua ação.
Sou a amável, a lírica,
a própria poesia que me rendes.
Fazes poemas de amor e de guerra...
Escreves, depois te arrependes!
Amor, porque me queres.
Guerra, pois não me tens.
Eu sou de todos os poetas,
sem sequer ser de alguém.

domingo, 16 de março de 2008

Lua

Olhe pela janela.
Ela está ali, tão bela.
Parece nua e tão tua...
Pois, pra mim, a lua
é um presente que te dei.
E nessas noites enluaradas,
eternas madrugadas,
somente silêncio esquecido
aquece o coração partido
e faz de ti um rei.
Rei lunar e lunático,
ávido, viril, catártico.
Senhor da lua, mas não de si.
O brilho que nela acendi
te atrai, como o mar que a trai
com o sol de luz cálida,
invejoso da lua pálida.
Se dela tudo sabes,
a lua sabe o que não cabe
e então ela se vai...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Vertigem sonora (título provisório)

Vertigem sonora

Vertigem sonora assola meu lar.
O ar propaga frases libidinosas,
um outro jeito de incomodar.
A melodia profana, profusa,
dilatando meus tímpanos,
ecoa leve, um sopro, confusa.
Já não sei mais distinguir
se é o som do livre vento
ou da voz que vem de mim.

Lenita,05/03/08

sábado, 8 de março de 2008

Escrevi mas não mandei

Escrevi mas não mandei

Escrevi um poema pra você,
mas não tive coragem
de entregá-lo quando o fiz.
Pensei em apagá-lo,
rasgá-lo, em dar um fim!
Não podia deixar vestígios
do sentimento sem sentido
que é sentido por mim.
Mas tem coisas que
são simplesmente indeléveis.
Mesmo que o poema
desaparecesse de vez,
ainda estaria escrito aqui
na minha mente confusa,
no meu coração afoito.
Aflita, o guardei sem medo
num lugar escondido,
onde ninguém poderá achá-lo.
E lá, juntamente a ele,
está meu amor repentino,
não por isso menor
nem menos verdadeiro.
Você não sabe nada
além do que eu disser.
Não sabe as palavras
que eu nele utilizei
nem a forma, nem a rima
Você não sabe um verso,
talvez nunca saberá!
Apesar disso, sabe que escrevi.
Escrevi, mas não mandei...

Lenita, 08/03/08

Érato


Érato, a Amável, foi uma das nove musas da mitologia grega. Filha de Zeus e Mnemósine.
Era a musa da poesia lírica, representada com uma lira, e dos hinos.
Teve com Arcas o filho Azan. É representada com uma lira e por vezes com uma coroa de rosas
.

Fonte: Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Erato)